O Sindicalismo Revolucionário é um método organizacional da luta dos oprimidos surgido no final do século XIX com o intuito de superar o sectarismo teórico/ideológico do movimento operário. Para tanto os sindicatos que adotam tal metodologia não se pautam por cortes ideológicos, um avanço tático não só para o contexto do período como para a organização das lutas dos oprimidos até hoje. Sua forma de organização aceita comunistas e anarquistas, e principalmente e acima de tudo, pessoas que não se preocupam com tais identidades. Seu crivo de filiação está na negação da disputa eleitoral burguesa e da conquista do Estado como tática pertinente.
Até mesmo a III Internacional Comunista (Comintern) teve uma seção Sindicalista Revolucionária (Profintern) que tinha certa autonomia (o que gerou conflitos internos com o Centralismo Democrático). Comunistas de Conselhos, comunistas libertários, Anarquistas, pós-operaístas/autonomistas italianos já compuseram fileiras de sindicatos revolucionários. Porém, o mais importante, pessoas totalmente desvinculadas de quaisquer dessas identidades formaram a maior parte de suas fileiras, importando muito mais a organização pela base via democracia direta da luta dos setores oprimidos da sociedade. Daí o nosso lema: Só o povo salva o povo.
"o verdadeiro operário não baniria da sua atividade a luta política: baniria unicamente as táticas políticas que dividem o proletariado, devolvendo-os aos respectivos partidos, pelos quais os operários se acham repartidos, em companhia mais ou menos numerosas de burgueses, semiburgueses, literatos e idealistas..."
Neno Vasco, anarquista atuante em sindicatos revolucionários, em declaração à imprensa operária, 1920.
A autonomia é uma metodologia aplicada à articulação de algumas lutas políticas. Conceito preponderante para as mais bem sucedidas revoluções sociais da história e da contemporaneidade (Ucrânia de 1918 - 21, Espanha de 36, Zapatismo e Revolução Curda em Rojava). Autonomia "implica necessariamente a participação ativa e igualitária em todo o poder social que decide sobre os problemas comuns" (Castoriadis), assim como significa a tomada integral da ação política pelos sujeitos envolvidos no processo, sem delegar a função de seu ser social e político a um núcleo ou centro vanguardista que saberia melhor do que o povo autônomo o que seria melhor para este.
A auto-determinação dos povos (não auto-determinação liberal da pequena burguesia) passa pela identificação e sentimento de pertencimento comum a um grupo. Sem essa identificação a noção de comunidade, de partilha dos mesmos problemas e recursos para superá-los não se opera, ficando uma sensação de impotência e isolamento. Na auto-determinação dos povos uma comunidade identifica seus problemas conjuntamente, os debate coletivamente e em comum acordo chegam às soluções que lhe cabem com os recursos em comuns que tenham a sua disposição.
Quando se criam centros elitizados de tomada de decisão, se fabricam vanguardas que estão necessariamente apartadas das massas, artificialmente criando instâncias especializadas na execução do poder, ficando este distante das massas, portanto, exercício completamente oposto à autonomia. O que gera vícios e comportamentos controladores e autoritários. O processo de aquisição e qualificação da gestão social (que deve ser cada vez mais compartilhado por todas as pessoas) fica seriamente comprometido e cada vez mais difícil de ser executado quando se naturaliza a centralização vanguardista.
Não basta professar acordo estatutário com tais princípios, é preciso pô-los em prática de modo a se evitar os vícios que se denunciam nas outras formas de sindicalismos e organizações políticas, do contrário corre-se o risco de incorrer em uma fraseologia vazia de práticas efetivas da organização das classes oprimidas. A metodologia do Sindicalismo Revolucionário exige coesão ética, caso contrário não passará da reprodução de vanguardas viciadas na detenção do poder, erro que se comete desde 1921 quando as teses desse programa se produziram na Internacional Sindical Vermelha.
Ou ainda erros mais antigos, frente às denúncias do Sindicalismo Revolucionário, visto que tal metodologia remonta, dentro das fileiras Anarquistas/Libertárias, a mais tempo ainda, desde o final do século XIX. A concentração de poder e centralização dos modos de se organizar a resistência dos oprimidos sempre foi algo criticado por esses setores. Em nome de egos se manter apegado a preciosismos sempre foi um empecilho à organização efetiva desses mesmos oprimidos.
Assim como deve nos ser inadmissível qualquer metodologia que proporcione o surgimento de chefes. Qualquer instância de caráter operacional e executivo deve ter suas funções determinadas pelas bases e tão somente por estas ou do contrário estaremos reproduzindo dinâmicas de dominação e autoritarismos, que historicamente vêm minando o poder das lutas populares. Qualquer órgão eleito para agir em nome das massas é um executor da vontade destas, não um centro de produção de poder que saberia melhor do que àquelas o que lhe seria mais pertinente.
Os cargos nestas organizações têm caráter meramente operacional e os vícios de centralização de poder como, represamento de informações para as bases, alteração de deliberações encaminhadas, falácias de articulações privadas, repasses propositadamente alterados, devem ser terminantemente evitados e combatidos. Somente assim se desenvolverá organismos e métodos eficazes na e para a organização das massas oprimidas. Enquanto essas práticas não forem superadas quaisquer organizações que surjam não passarão de espaços para disputas egóicas.
Sendo assim vale repetir:
Só o povo salva o povo! Avante!
Coletivo Autônomo Lima Barreto
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