Um dos principais recursos do atual sistema de exploração generalizado e suas elites gestoras, para se manter intocado, é nos convencer do Fim da História, isto é, que chegamos num modelo de gestão social acabado e imutável, se não perfeito, ao menos realmente funcional. Querem que acreditemos na inviabilidade da superação das atuais condições de vida, e isso atende aos interesses programáticos tanto da direita burguesa quanto da esquerda institucional, essa crença dá seguimento aos jogos de poder das instituições burguesas que essas vertentes aderem e propagam.
Assim, participar das disputas institucionais dos regimes exploradores passa a ser algo "sensato", maduro, coisa de "gente grande", adulta e responsável. Por trás da narrativa fundada na maturidade e responsabilidade social está a captura pela subserviência e aceitação, que nos é incutida desde a infância através da escola e suas normas de bom comportamento, assim como as brincadeiras fundadas em disputas e o sistema avaliativo de notas, que vão nos fazendo naturalizar a competitividade (idéia basilar do capitalismo). Mas essa naturalização das coisas como estão, do status quo se faz por toda uma ordem cultural, filmes, séries, novelas, reality shows, thalk shows, músicas, redes sociais e muitas outras práticas que vão colonizando nosso imaginário, vão limitando nossa capacidade imaginativa e associativa, ficamos, assim, condicionados a obedecer às autoridades políticas e econômicas que aí estão e também nos adaptarmos à sociedade que nos cerca, sem crermos ou até mesmo sem ponderarmos a viabilidade de criarmos novas maneiras (ou resgatarmos algumas outras) mais sensatas, solidárias e colaborativas de vivermos em comunidade.
Até mesmo a contestação da ordem capitalista e burguesa adquiriu, ao longo do tempo, esse caráter limitado travestido de maduro, sensato, dito até científico, é o caso do Socialismo Autoritário, fundado na centralização de poder via o Estado. Essa narrativa surge com Marx no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores a partir de uma disputa teórica com Bakunin. Marx, numa jogada de marketing autoproclama seu sistema como um Socialismo Científico e classifica o de Bakunin como um Socialismo Utópico, portanto sonhador e inalcançável, impraticável. Bakunin, por sua vez, responde que o que teoriza é um Socialismo Antiautoritário enquanto Marx um Socialismo Autoritário.
Coube à História mostrar que o pretenso cientificismo de Marx não passava de recurso retórico à massagens nos egos de pessoas com sede de poder. Assim foi que a URSS, para não ser desmentida na prática buscou esmagar a Revolução Ucraniana (1918 - 1921) que se realizava a partir de bases e preceitos libertários, portanto antiautoritários. E anos depois fez o mesmo na Revolução Espanhola (1936 - 1939), traindo e assassinando toda e qualquer pessoa que não se submetesse ao seu controle centralizado, independentemente de com que corrente socialista estas se identificavam.
Tanto a experiência na Ucrânia quanto na Espanha eram a prova empírica, experimentada na prática, de que os sonhos de uma sociedade livre e autoorganizada pela base, a partir da federação de produtores, trabalhadores rurais e urbanos, era viável e possível e a traição sofrida por estas experiências confirmaram que o cientificismo marxista não passava de autoritarismo.
Hoje a Social Democracia é a teoria política que melhor mantém a subserviência à ordem estabelecida via a colonização de nossas formas de pensar e agir no mundo, clamando-nos a participação em processos eleitorais, para assumirmos a responsabilidade social de nossos destinos. Escondendo assim o fato de que nossos votos determinam muito menos os rumos sociais do quê os acordos empresariais, comerciais e entre governos e grupos de investimentos, ficando assim o regime eleitoral como a prova de nossa impotência organizativa. Mas se foi a criatividade humana associada quem desenvolveu as atuais formas de organização social é também essa mesma criatividade coletiva que, afastada desse exclusivismo metodológico, pode encontrar e desenvolver novas respostas, mais horizontais e éticas, aos desafios sociais.
Só o povo salva o povo!
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